Por FolhaPress
31 jul, 2025
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto as negociações de alto nível sobre política climática acontecem nas COPs (Conferências das Partes), as Climate Weeks, ou Semanas do Clima, vêm se multiplicando como espaço de debate entre a sociedade civil.
Antes limitadas a eventos esparsos, elas se tornaram espaços essenciais para discutir financiamento climático, acelerar compromissos locais e preparar agendas para as COPs, como a que acontece em Belém em novembro.
Malini Mehra, idealizadora da London Climate Action Week, explica que o fenômeno ganhou tração por representar uma forma de “mobilização de baixo para cima” que faltava ao processo multilateral. “São mecanismos significativos de mobilização num momento em que tivemos 30 anos de definição de normas internacionais, mas sem foco suficiente em como realmente tornar essa agenda em algo local”, diz.
Segundo ela, é possível agrupar as semanas do clima em três categorias: a primeira são as organizadas sob a chancela da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCC, na sigla em inglês), que funcionam como uma extensão das COPs. A segunda, como a Climate Week de Nova York, tem foco no envolvimento do setor privado e no mercado financeiro -principalmente para atrair investimentos para ação climática e envolver as empresas no diálogo.
Já a terceira categoria, mais recente, busca conectar política internacional com ação local. “É por isso que a chamamos de ‘Climate Action Week’ (CAW), com ‘ação’ no centro. É um modelo novo, e queremos que ele se espalhe”, resume Mehra.
A primeira CAW aconteceu em Londres, em 2019, e cidades como Sydney, Dublin, Xangai e Baku, no Azerbaijão (local da última COP), adotaram o evento. No fim de agosto, o Rio de Janeiro recebe a primeira edição no Brasil. A ideia, diz Mehra, é reforçar a mobilização e a preparação de atores locais e internacionais antes da COP30.
Inspirada na Climate Week de Nova York, a Climate Week São Paulo (CWSP), que acontece no início de agosto, é um exemplo da segunda categoria citada por Mehra e tem se firmado como uma plataforma voltada à ação concreta -especialmente no financiamento de soluções locais. “Nosso propósito foi desde o início deixar de ser só um fórum de discussão e virar um fórum de ação”, diz Michel Porcino, um dos coordenadores da CWSP. “A gente quer discutir como fazer, e quanto dinheiro é necessário para isso.”
Segundo ele, a CWSP já articulou com o governo paulista o fundo Finaclima, voltado à conservação e restauração de florestas, com meta de captar R$ 5 milhões até o fim do ano. A lógica, segundo Porcino, é aproximar governos e empresas. “A gente precisa juntar os dois lados. O governo precisa de investimento privado, mas precisa criar o ambiente para que esse investimento aconteça.”
Porcino também aponta para uma conexão direta entre a CWSP e a COP30. Segundo ele, várias iniciativas articuladas durante a semana em São Paulo estão sendo pensadas como trampolim para as negociações em Belém. “A ACNUR (agência da ONU para refugiados), por exemplo, vai aproveitar a semana para fazer escutas com refugiados e levar essas demandas para a COP”, diz.
A multiplicação das semanas climáticas nos últimos anos não é coincidência. Para Sheila Foster, professora da Escola de Clima da Universidade Columbia, o fenômeno se acelerou após a pandemia e foi impulsionado por mudanças políticas nos Estados Unidos.
“Com a chegada do governo Biden, tivemos a aprovação do Inflation Reduction Act, que, apesar do nome, foi o maior pacote legislativo climático dos EUA”, diz. “Isso incentivou não só o setor privado, mas também a sociedade civil, a se mobilizar. E as climate weeks passaram a ser plataformas para essa mobilização.”
Em um segundo mandato de Donald Trump na Presidência dos EUA, a Climate Week de NY se torna um espaço ainda mais estratégico, diz Foster. “Como os EUA sinalizaram sua saída do Acordo de Paris, o peso da Climate Week cresce. Os estados e cidades americanas, especialmente os mais progressistas, podem usar o evento como plataforma para levar suas agendas à COP30, mesmo sem o governo federal ao lado”, afirma.
Ela prevê que a edição deste ano terá um tom diferente: “Se antes havia entusiasmo por causa dos investimentos federais, agora vai haver preocupação. A retirada de verbas, o corte de regulações e o retrocesso nas políticas ambientais vão dominar as conversas. A pergunta será: como continuar sem apoio federal?”.
Mas nem só de indicadores de investimento e números se faz uma semana do clima de sucesso. “Também olhamos para o engajamento social, pessoas se conectando, comunidades participando, redes sendo formadas. Isso não acontece em uma semana técnica da UNFCCC”, resume Mehra.
PRÓXIMAS CLIMATE WEEKS NO BRASIL
**SP Climate Week**
De 2 a 8 de agosto Veja programação em: https://www.spclimateweek.com.br
**Rio Climate Action Week**
De 23 a 29 de agosto Veja programação em: https://rioclimateactionweek.org/
