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Quanto Custa Não Agir? Os Impactos Econômicos das Mudanças Climáticas

O desafio das mudanças climáticas emerge como um dos maiores dilemas econômicos e sociais do nosso tempo. Segundo um novo relatório elaborado pela Universidade de Cambridge em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), o custo de agir hoje contra o aquecimento global é drasticamente menor do que o preço a ser pago caso permaneçamos inertes. Não se trata mais apenas de proteger ecossistemas ou minorias vulneráveis; trata-se de garantir a própria estabilidade financeira mundial pelas próximas décadas. Enquanto os custos de inação podem levar o mundo a perder até 27% do PIB global acumulado até 2100, o esforço para mitigar e adaptar-se custaria entre apenas 1% e 2%. A cada dólar investido agora, poderão ser evitados até dez dólares em perdas futuras, um dos retornos mais expressivos já projetados para qualquer investimento, seja ele público ou privado.

O cenário atual, no entanto, revela um abismo preocupante entre discurso e prática. Em 2021 e 2022, apenas 1% do PIB global foi dedicado à mitigação dos efeitos climáticos e menos de 0,1% a iniciativas de adaptação. Para que as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris sejam alcançadas até 2050, será necessário multiplicar por nove os investimentos em mitigação e por treze os recursos voltados à adaptação. A disparidade entre a urgência do quadro e a lentidão das respostas é alarmante. Os cálculos não deixam espaço para dúvidas: a demora em agir representa um prejuízo bilionário para países, empresas e famílias.

As consequências econômicas dessa crise já se fazem sentir nos mais variados setores. Produtividade laboral em queda devido a extremos de temperatura, perdas agrícolas recorrentes resultantes de secas, enchentes ou pragas e danos crescentes à infraestrutura urbana e rural pressionam cada vez mais os cofres públicos e privados. Eventos extremos como ondas de calor, tempestades e mudanças radicais nos padrões de chuva desestabilizam mercados financeiros, paralisam cadeias logísticas e reduzem capacidade produtiva. A insegurança provocada por esses fenômenos desestimula investimentos, reduz a acumulação de capital nacional e acirra a volatilidade em mercados de crédito, seguros e commodities.

O Brasil está entre os epicentros globais da vulnerabilidade climática. Projeta-se que o país poderá perder até 18% do seu PIB até 2050 caso as tendências atuais de aquecimento persistam, ficando atrás apenas do Oriente Médio nesse ranking de risco. O contexto brasileiro é marcado por uma economia tropical altamente dependente da agricultura, infraestrutura ainda frágil diante dos eventos extremos e forte desigualdade social, que impede comunidades vulneráveis de se protegerem ou se recuperarem eficientemente após desastres. Além disso, o país está entre os emergentes que menos investem em mitigação e adaptação, o que agrava ainda mais seus riscos econômicos e sociais futuros. A América Latina como um todo, e particularmente o Brasil, têm muito a perder caso a mobilização global continue aquém do necessário.

O relatório de Cambridge e BCG, no entanto, não se limita a soar um alarme: aponta caminhos reais de solução que precisam ser implementados com urgência. Investimentos em energia limpa devem se tornar o alicerce de uma nova matriz produtiva, capaz de reduzir emissões de gases de efeito estufa e tornar as economias mais competitivas. O desenvolvimento e a modernização de infraestrutura resiliente permitirão que cidades e regiões inteiras sobrevivam e prosperem diante de secas, enchentes e demais fenômenos extremos. O setor produtivo precisa ser transformado para operar com baixas emissões de carbono, usando inovação e tecnologia a favor de processos mais regenerativos. A preservação dos biomas, o reflorestamento e a restauração de áreas degradadas são indispensáveis, não apenas como responsabilidade ambiental, mas como estratégia econômica. Tudo isso só será possível com a ampliação do financiamento climático, sobretudo para os países em desenvolvimento que, apesar de mais vulneráveis, recebem menos recursos internacionais.

Neste cenário, a Rio Climate Action Week desponta como espaço central de mobilização e articulação. O evento tem o papel de promover o encontro entre lideranças, empresas, cientistas, jovens e comunidades, fomentando o debate público, a disseminação de soluções inovadoras e a construção de caminhos concretos para uma economia sustentável e resiliente. Trata-se de um chamado nacional à responsabilidade e ao protagonismo. O olhar se volta ainda para a COP 30, que será realizada em Belém, e representa uma janela de oportunidade única para que o Brasil influencie positivamente o destino global. Este é o momento de exigir compromissos genuínos, recursos robustos e acompanhamento transparente dos avanços, alinhando políticas públicas e setor privado a uma agenda de futuro.

O imperativo econômico da ação climática está lançado. Hesitar hoje pode custar trilhões amanhã. Ao investir imediatamente na transição para um modelo de desenvolvimento sustentável, protegemos não só nosso meio ambiente e nossa saúde, mas também o valor do trabalho, das empresas e da economia global. A escolha está feita: liderar a mudança ou pagar o preço altíssimo da omissão. A mobilização inspirada pela Rio Climate Action Week e pela COP 30 é não apenas necessária, mas urgente para garantir prosperidade, justiça e resiliência a todos.

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